plural

PLURAL: os textos de Rosana Zucolo e Rony Cavalli

"Nós" e "eles"
Rosana Cabral Zucolo
Jornalista, professora nos cursos de Jornalismo e PP da UFN

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Este texto remete ao último artigo¹ escrito pelo filósofo Roberto Romano (Unicamp), recentemente falecido em decorrência da Covid-19, que versa com propriedade sobre o que afeta a soberania nacional: a relação entre o ressentimento e a política do governo brasileiro. Julgo importante trazer o tema, porque o ressentimento tem marcado o dia a dia da sociedade brasileira a partir de estereótipos e slogans propagados, intencionalmente ou não, e tornado a vida pública pesada e desesperançada.

Ao refletir sobre o cenário nacional, Romano levanta aspectos como as previsões de Dani Rodrik (Harvard) de que, há 20 anos, já era possível prever que o descuido dos políticos não populistas em relação às desigualdades sociais e econômicas impulsionaria a emergência de governos de extrema direita, como demonstraram as atuais vitórias no mundo e no Brasil. Segundo Rodrik, os efeitos da globalização como a internacionalização dos mercados de bens, serviços e capitais, gerou um vazio entre grupos cosmopolitas profissionalmente organizados e qualificados e o resto da sociedade. O favorecimento dos interesses liberais por governos que deram maior importância aos elos econômicos internacionais do que às demandas nacionais constituíram um cenário favorável à exacerbação de dois tipos de políticas - a da escolha identitária fomentadora dos nacionalismos e das crises étnicas e religiosas e outra que expõe o fracionamento entre rendas altas e baixas. Também proporcionou o espaço para aflorar o ressentimento dos, efetivamente, excluídos ou daqueles que se sentem ameaçados pelo Outro, terreno favorável para o crescimento da demagogia da extrema direita sustentada no discurso que estabelece a diferença entre "nós" e "eles".

Para Romano, o ressentimento traz a "corte sinistra da inveja, ciúme, maldade, baixeza que tornam a vida social uma impossibilidade permanente". Ao fazer a cisão entre os sujeitos, explora a depreciação e atribui maldade aos outros para sentir a si mesmo como bom, elemento que marcou a campanha bolsonarista desde 2018, e voltada às massas ressentidas.

Concordando com o autor, é possível pensar no imaginário e o modo como ele é alimentado. Quem já não ouviu o clássico argumento "pessoas de bem" para excluir alguns indesejados? Ou a alusão de que estrangeiros refugiados são intrusos e devem voltar ao lugar de onde vieram? Que profissionais qualificados vêm de outros estados para "pegar o nosso lugar no mercado de trabalho"? Que bandido bom é bandido morto? Que negros são preguiçosos e mulheres são oportunistas? Que a mulher foi assediada porque não estava adequadamente vestida? Que o sujeito não trabalha porque é vagabundo?

É possível reunir um universo de expressões jocosas e argumentos falaciosos relacionados ao "Outro" que não se sabe exatamente quem é, mas que, de algum modo, representa uma ameaça imaginada ou construída, e é tornado um suposto "inimigo".

No Brasil de Bolsonaro, a propaganda do sinal de arma explora a sombra da insegurança na cidadania, a propagação grotesca de fake news em torno dos costumes com supostas discussões de ideologia de gênero em escolas, ameaça de dissolução de "valores tradicionais" e a transformação de meninos em gay e menina em lésbica, entre muitos outros elementos que não cabem neste curto espaço de jornal, tem alimentado um sem número de desavisados ressentidos. E, como alerta o autor, é preciso atenção para evitar que a "soberania não seja das hordas de perseguição que já movem suas patas com as milícias. A morte de Marielle Franco foi um aviso. Saibamos captar a mensagem da morte."

¹ Bolsonaro e o ressentimento, publicado no Jornal da Unicamp em 18/06/21.

Brasil: o país do contra
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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O Brasil realmente não é para amadores. Qualquer pauta que seria lógica todos apoiarem, pois seria melhor e fortaleceria o País, se fortalecer o adversário político, por mais que o beneficiado maior seja o País, haverá forças radicalmente contra. O País não interessa, o efetivo interesse popular não interessa, pois o que realmente interessa é o interesse político do grupo que sairia enfraquecido e as forças ligadas a este moverão o mundo para impedir o avanço.

Em relação a todas as doenças, toda e qualquer orientação médica, desde que se conhece a medicina, é que o tratamento quanto antes iniciar melhor, quanto mais formos preventivos maior a chance de sequer termos a doença ou se a tivermos, o tratamento precoce aumenta sobremaneira a chance de cura. Todas as doenças, menos a Covid, pois tratamento precoce é proibido e médico que o defende é achincalhado, é cancelado e corre o risco de ser processado e médico bom é considerado aquele que recomenda quando sentir os primeiros sintomas simplesmente não fazer nada.

Porém, o mais inacreditável está acontecendo em relação à defesa da modernização do sistema de escrutínio dos votos. Esta sim em qualquer lugar onde efetivamente se defende a democracia todos se uniriam para defender quanto mais moderno, quanto mais seguro o sistema, melhor e mais fortalecida seria a democracia. Todos, menos no Brasil, onde esta defesa virou também uma guerra política.

A segurança do sistema eletrônico e a contagem de votos transparente e com possibilidade de sofrer auditoria acaso paire alguma dúvida deveriam ser defesa de todos, da direita à esquerda, mas no Brasil não, pois acaso isto aconteça fortaleceria o atual Presidente, em que pese o mais fortalecido seria o Brasil, já que não importa quem venha a vencer as eleições e sim importa, de verdade, que se tenha segurança absoluta de que a escolha do povo foi efetivamente a vencedora e esta segurança não pode simplesmente ser a garantia do "ministro ungido por Deus" Luiz Roberto Barroso, embora ele ache que é o suficiente.

Qualquer sistema que esteja alicerçado sobre bases tecnológicas, de tempos em tempos, gasta-se bilhões para modernizá-lo e torná-lo mais seguro, mesmo que não venha ocorrendo falhas, mas modernizá-lo é a lógica, menos se estivermos falando do sistema de votos eletrônicos no Brasil, cujas urnas utilizadas foram desenvolvidas há cerca de 25 anos e é proibido para o TSE se falar em implementar algo que venha somar a segurança das urnas.

Neste dia 01/08, o povo favorável ao voto impresso e auditável tomou as ruas em um movimento de envergadura considerável, dando o tom de que efetivamente a vontade popular é que se dê mais segurança ao sistema e a impressão do voto do eleitor é a saída, como tantos outros países já fazem.

Embora esta manifestação popular tenha sido grandiosa, o stablishment é forte e já se movimentou para barrar a PEC no Congresso e acredito que só tem um jeito de fazer esta medida passar que é não movimento popular de um dia apenas e sim movimentos que tenham força para parar o Brasil, como os caminhoneiros ou o agro acampando em Brasília de forma contínua até a aprovação da medida com lideranças firmes e com efetivo risco de se desabastecer o Brasil, acaso não se implante no sistema a impressão do voto.

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